sábado, 7 de janeiro de 2012

hunter...

"Wants to be a hunter again
Wants to see the world alone again
To take a chance on life again
So let me go"

Quantas vezes ouvira essa música? Quantas vezes sentira no íntimo as dores de estar engajada a alguém e sonhar, como em desesperdo, por se ver livre???
Não, nesse momento não era caçadora quem ela queria ser... não era caça...
Buscava a paz dos dias tranquilos... a noite como aproveitava hoje... uma boa leitura, um papo rápido e leve com um velho amigo, pensamentos baseados em questões existenciais que não a envolviam diretamente... uma cerveja com amendoim...

Ah... motivos não faltavam pra ela tentar buscar a caça novamente... sempre existem... mas, por mais estranho que lhe parecesse, estava feliz. Feliz por poder ficar quieta. Feliz por se sentir livre para fazer escolhas.

Estivera com febre ao longo da semana. Estivera inquieta ao longo dos dias. Estava, de certa forma, inquieta hoje. Mas hoje, nesse exato instante, não se sentia instigada a mudar o rumo. Não se preocupava com as severas implicações que o futuro pode, ou não, oferecer.

Com a certeza de que a dúvida sempre existirá, preferia, hoje, simplesmente acatar a noite quente, a luz forte (sim, trocara, enfim, a lampada), os pensamentos vacilantes...

Estava bem por estar onde está... poderia se desmaterializar nesse momento... poderia ser absorvida agora... se pudesse ao menos guardar essa sensação de fazer o que quer fazer, do jeito que quer fazer...

Se existisse plenitude, essa seria uma delas...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pequenos Tesouros Esquecidos

Faziam 15 anos. Exatamente 15 anos. Não lembrou do objeto nem enquanto conversava sobre o antigo dono. Uma cena de filme e lá estava ele, vivo na memória, ansiando por ser lembrado, por ser revivido. Um cordão de prata, um presente, uma lembrança de uma antiga paixonite de adolescencia. Algo que ela fora descuidada ao guardar. Algo que ela agora queria pegar de volta, olhar e lembrar que aquele momento havia realmente acontecido.

15 anos... Já haviam acontecido tantas outras coisas, outros namorados, mudanças e mais mudanças de casa, viagens... tinha comprado, ganhado, perdido e dado tantas outras bijuterias... ainda teria aquele cordão?

Sabia que para encontrá-lo não bastaria olhar no porta-joia em cima da estante, ali não guardava nada muito antigo... precisaria ir mais fundo... precisaria lembrar de onde teria deixado aquele cordão, naquela mesma casa, cerca de 15 anos atrás... precisaria ter guardado, precisaria ter dado importancia. Porque sentia que não tinha dado nenhuma importancia até aquele momento? Porque doia a possibilidade de ter jogado fora ou perdido para sempre algo que alguém lhe dera com tanto carinho e empenho?

Mas não, ela havia dado importancia. Mesmo sem perceber havia dado importancia. Achou, meio descuidado, meio maltrapilho, mas ainda um cordão de prata, um cordão que ele havia ganho no batizado. Olhando agora essa história contada por ele não parecia real... mas não importava, para ela sempre seria um cordão que ele ganhou no batizado e deu a ela antes de ela voltar pra casa.

Guardou o cordão, junto com o pingente que aquele outro rapaz havia tirado do pescoço e dado para ela anos depois, junto com sua aliança do casamento acabado, junto com a moeda furada que um dia lhe deram como despedida. Guardou suas lembranças de passado, morrendo de orgulho. Guardou junto com o anel de ouro que sua mãe lhe dera recentemente, com os brincos de ouro que o namorado havia lhe dado, e com as pedras de topázio imperial que ganhara em Outro Preto... eram suas joias, as mais valiosas de todas... as joias que lhe contam histórias, que não são penhoráveis, que não podem ser vendidas.

Orgulhosa de si mesma, orgulhosa de poder saber que vivera tudo aquilo, tirou o filme da pausa e assistiu aliviada.