domingo, 29 de agosto de 2010

Dadaísta

Bom, nunca fui chegada a ser muito simpática na vida. É verdade que durante muito tempo eu fui uma pessoa extrovertida, ou, melhor dizendo, de fácil convívio.
Sempre fui tímida. Com os anos aprendi a usar algumas defesas contra a minha própria timidez pra viver no mundo com os outros. Do contrário eu jamais sairia da casca, e morreria de vergonha de mim mesma umas vinte vezes por dia.
Meu sarcasmo e minha ironia são os frutos dessa defesa. Eles estão sempre presente comigo, nunca dormem, e se tornam mais e mais enérgicos a cada dia.
É comum eu não ver nem o óbvio nem o fragmento das coisas, mas eu as sinto. E isso em mim é mais importante do que a percepção imediata. É isso que me faz ter sempre uma resposta na ponta da língua, seja ela simpática, seja bruta, ou completamente deslocada do contexto.
Eu me faço responder.
Com aqueles que eu gosto, a ironia é predominante. No meio de um assunto sério, de uma conversa densa, de um momento difícil... bum... uma frase irônica pra diminuir o peso ou pra dar mais espaço pra ele.
Aqueles que não me deixam à vontade, que me ameaçam ou simplesmente não me agradam, eu utilizo o sarcasmo e/ou o cinismo.
Sai simplesmente. E hoje já nem me importa tanto o possível arrependimento de depois. Tenho aceitado mais isso. Talvez, eu até aprenda a mudar isso em algum momento.
Com poucas pessoas eu sou realmente sincera, normalmente eu deixo a crueza aparecer como uma forma de verdade chocante, apenas para deixar claro que o julgamento da pessoa é desnecessário na minha vida. Normalmente ninguém entende isso, o objetivo não é alcançado. Mas eu sigo em frente agindo dessa forma ainda assim.
Seja lá o que for, algo tem me reforçado bastante para manter esse jeito seco de ser. Fui perdendo a ternura na primeira casca. Agora ela é toda interna, toda minha.
Dentro de mim há ainda muita poesia. Por fora apenas dadaísmo.

sábado, 21 de agosto de 2010

Feira da Música 2010

Um espetáculo para ver, sentir e, claro, ouvir!
Palco da praça verde do dragão do mar rolando Zeca Fofinho (se bem me lembro o nome). Banda 'meu estilo'.
De um lado uma pequena roda de candomblé/umbanda (um dia aprendo a diferença) fazendo a festa com muito batuque e belas mulheres dando seus fortes passos.
Um garotinho, loiro de doer, dançava feliz da vida com os pais, deixando claro que a felicidade morava ali.
O cheiro ocre do baseado batia louco no meu nariz. Várias pessoas apertavam e acendiam, acendiam e apertavam. Não faltou bagulho lá. E o cheiro e a fumaça... o cheiro impregnando.
Em outro canto, um rapaz normal fazia malabares, e era só começar a girar que os trejeitos dominavam o corpo, bonito mesmo de ver. As crianças parando pra olhar, ele parando pra apresentar e ensinar.
Uma moça, magra de dá dó, com uma touça gigante na cabeça, deixava o som da banda embalar, pernas e braços para todos os lados, sorrisos intensos.
Muita gente, muitos grupos, muitas famílias. Mas tudo suave, tudo caminhando em poesia para os olhos.
Casais arco-iris se permitiam viver naquele ambiente como se sempre tivesse sido de todos, os olhares não julgavam, nem assistiam, deixavam ser.
Eu ali totalmente inside. Me deixo levar embora, já havia dado por visto, já estava feliz pela vivencia, esperei a banda parar e segui o caminho pra casa.
Havia uma pedra. Há uma pedra.
Com tudo isso na memória, a pedra no sapato e no caminho, a tensão dos próximos dias, a leveza engraçada do peso das coisas... chego em casa, sem sono. Contudo, banho e cama.