quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade ou De médico e louco todo mundo tem um pouco

Qual é a da loucura?
Sempre me pego pensativa quando entro em um consultório psiquiátrio, seja por razões pessoais - sim, por que eu, pobre mortal, já tive a doença do século - ou por questões profissionais, e me deparo com a frase: Não é louco quem quer, só é louco quem pode (ou algo do gênero, não lembro ao certo, veja que horas são).

Primeiro pela audácia/coragem de um profissional tão exteriotipado em colocar o próprio exteriópito à prova. Segundo por que é a mais pura e simples verdade.

Acontece que a loucura é algo fascinante. Não quero escrever um tratado para explicar o que seja loucura, então vamos pegar o conceito senso-comum de que a loucura é a falta de sanidade, ou melhor ainda, que a loucura é qualquer coisa completamente diferente da normalidade. O resto você viaja sozinho, ou vai estudar sobre o assunto, que também é interessante.

Na faculdade tivemos, na minha época, quatro cadeiras para falarmos das psicopatologias (loucura), e ainda foi muito, mas muito, pouco. Fico incomodada por até hoje não ter lido O elogio à loucura de Rotterdam (estante virtual já!).

Acontece que momentos de loucuras são todos necessários para vida humana... pelo menos são necessários para mim. Não falo de atos impulsivos e, por isso, insanos. Mas de uma loucura cultivada, pensada. Aquilo que você sabe que não é normal, que não faz parte dos padrões, que as consequencias podem ser/serão ruins. Obviamente você deve pensar, uai, mas se você tem toda essa noção, então não é loucura. Ok, eu concordo, a minha loucura é aquela do querer. Eu não posso ser realmente louca, pelo menos por enquanto, então eu entro em momentos de loucura.

Vide a frase título do post, muitas vezes, são meus atos de loucura que me permitem uma identificação comigo mesma. Às vezes, eu tenho a necessidade de me tornar um pouco insana, para depois rir, e me sentir presente no mundo em que vivo.

Seja roubando os copos de tequila de uma boate, seja acordando seis horas da manhã para comprar chocolates e levá-los, mais tarde, de surpresa, para casa de uma pessoa que eu sei que vai gostar, mas não vai significar como deveria. Seja tendo ímpetos, só ímpetos, de sair de casa no meio da tarde pra andar sem rumo ou direção, sentindo o vento bater no rosto...

Enfim, loucuras extremamente singelas, normais até, mas que me qualificam como uma pessoa completamente diferente de você, por exemplo, que tem sim suas loucuras pessoais.

Dessa mesma forma, quando a vida tá um caos por si só - e aqui pausa, por que na verdade a vida não tá um caos, só tá seguindo em frente com seu fluxo, as minhas expectativas em relação a ela é que cruzaram a rua e seguiram um caminho completamente diferente - eu vou me des-estruturando na loucura para me estruturar novamente depois de um tempo.

Nem sempre faço coisas que me arrependo depois, acho que sou daquelas que me arrependo mais do que não fiz, apesar de me arrepender de algumas coisas feitas. Mas esses momentos de loucura, no máximo, me deixam com uma pequena ressaca moral, e normalmente vem muito mais pelos meus pensamentos acerca do julgamento alheio do que mesmo o julgamenteo alheio propriamente dito.

Fazer uma recolocação de si no mundo é difícil, e surtante por si só. Então, é preciso que você experimente, algumas pessoas o fazem de forma real, são levadas a se colocar em situações de experiencia 100%, e pouca elaboração em cima delas. Eu não, 95% é a pura elaboração de mim mesma que me faz louca, e apenas 5% são meus atos efetivos.

Covardia? Talvez, mas eu parto do princípio que a auto-elaboração é um comportamento, assim como a ação em si. E, diga-se de passagem, é um comportamento complexo, ou na verdade, uma classe de comportamentos, que tem uma teia complexa.

De qualquer forma, é o fato de eu me perder dentro da loucura, dentro desses rumos diversos da normalidade, que me deixa me recompor em uma pessoa normal e, relativamente, ajustada.

Cá comigo, tenho a certeza, ainda que não absoluta, que você aí que esbarrou com esse blog, também tem seus momentos de loucura, e no fundo vibra com cada um deles. Por que a loucura entorpece. Da mesma forma, ou até mais, que as dorgas lícitas ou não.

Talvez o maior problema dessa loucura, que não nos é dada, mas nos impomos em alguns momentos, seja o fato de ela ser viciante - será estranho que tudo aquilo que entorpece é passível de vício? Contudo, uma vez que essa loucura é forjada, não tenho medo do vício, por que ser louca é cansativo, os outros nos impões a normalidade, e ir contra os outros, é sempre muito difícil.

Chega uma hora que a loucura já te fez perceber quem você é, e os demais já te exigem juizo. Eis então o momento em que deixo a loucura de lado - não de bom grado, não sem saudade, não sem uma tristeza na hora do "até mais" - e me enclausuro na minha normalidade novamente, contudo, já deveras equilibrada.

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