terça-feira, 4 de junho de 2013

Além do que se vê

Era uma característica... imaginada que todos tinham... mas fora advertida na época da faculdade que nem todo mundo é assim. No dia riu... hoje ainda ri do comentário.
Tinha muita facilidade de caminhar entre os mais superficiais dos mundos e o mais profundos deles. De um para o outro era uma questão de pessoas.
Era só estar sozinha, era só ter um tempo maior livre e seu mundo se tornava pura percepção... imaginava que deveria ser fácil meditar se um dia tentasse.
Conseguia andar apressadamente pela rua para chegar na casa de uma amiga ou no trabalho e ainda assim sentir claramente o vento no rosto e no cabelo, o barulho do carro e seu lugar no na rua. Às vezes, já nesse período de grandes tecnologias, se imaginava como um ponto no meio do google earth.
Era facilmente atraída pelo barulho de pequenas fontes de água, ou uma risada distante sobre um assunto que não seria capaz de discriminar...
Pássaros e borboletas lhe chamavam sim a atenção, mesmo no meio de uma conversa fervorosa com alguém. Por vezes vazia pequenos comentários mentais para si mesma, enquanto notava que o sujeito do lado (fosse quem fosse) raramente percebia que uma folha tinha caído, que uma abelha voava por ali.
"Olhos de poeta" - ela lera isso em algum blog, onde alguém descrevia que um belo dia despertara pela percepção das coisas em si, quando um dia descobrira, enfim, uma cebola!
Não sabia se no caso dela, era uma cebola. Nem sabia ao certo o que essa característica lhe proporcionava. Talvez fosse essa percepção silenciosa que a fizesse tão curiosa, talvez isso a fizesse chata com suas eternas perguntas por detalhes pra tentar entender o que a outra pessoa percebe, pra encontrar empatia. Talvez isso fosse o sustentáculo da sua profissão. Toda essa percepção podia ajudar na hora de saber onde encostar no outro e se fazer ouvir, ou atrapalhar no fato de que ela se perdia num mundo interior por alguns segundos e tinha que voltar para a realidade do outro como quem precisa desembaçar a vista.
Lembrava dos dias que tinha uma vontade irracional de ir para o terraço de um prédio alto e ficar ali quieta, ou de fugir pro campo e ficar só assistindo a vida acontecer por um tempo antes de voltar pro "mundo real".

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